quinta-feira, 3 de março de 2011

ENKI BILAL & PIERRE CHRISTIN - O Cruzeiro dos Esquecidos

La Crosière des Oubliés. 1975. 60 págs. Ed. Meribérica. Portugal.
O Cruzeiro dos Esquecidos, publicado em 1975, marca o início da colaboração de Bilal com o argumentista Pierre Christin, uma colaboração que gerou a obra maior que é A Caçada. O Cruzeiro dos Esquecidos é uma história surreal sobre uma aldeia que, vítima de forças para além da sua compreensão, se descobre arrancada da terra, voando em direção ao mar. Os esquecidos são os aldeões, que sempre viveram esquecidos pelos poderes maiores, e que vêem os seus modos de vida ameaçados por uma industrialização selvagem e pela ganância dos empreendedores turísticos; enfim, pelo que se convencionou chamar de "desenvolvimento". O mistério do vôo da aldeia deve-se à interferência de um misterioso personagem, envolvido desde há muito tempo com feitiçarias e movimentos esquerdistas radicais, que manipula uma experiência militar com forças antigravitacionais. Mais de trinta anos após a sua publicação, esta obra vale mais pelo seu referencial histórico na HQ, como precursora do trabalho que Bilal viria a desenvolver. Neste livro, os elementos gráficos que caracterizam o estilo de Bilal já estão presentes, de forma embrionária, permitindo em retrospectiva antever a beleza das suas obras futuras. A temática da obra, com um forte componente de luta contra um progresso que destroi o modus vivendi natural, simbolizado pelas prepotência de militares empedernidos cuja sede de poder ultrapassa os limites da natureza, também já perdeu alguma atualidade. Apesar de tudo, o tom jocoso da história, que representa o poder político como totalmente ineficaz e o poder militar como tão monstruoso que os militares envolvidos nas experiências que deixam a aldeia voando vão-se metamorfoseando progressivamente em monstros, não está totalmente desadequado aos nossos tempos contemporâneos. É de assinalar o surrealismo da história e das imagens que, apesar de datada, ainda nos faz pensar na estupidez dos poderes que tentam modificar o nosso mundo em nome de um desenvolvimento visando ao mero lucro. (Texto extraído e adaptado do blog: http://intergalacticrobot.blogspot.com)

Pierre Christin é um escritor e argumentista de quadrinhos, nascido a 27 de julho de 1938 em Saint-Mandé (França). É conhecido pela sua parceria com Jean-Claude Mézières na série Valerian, agente espaço-temporal. Estudou na Sorbonne e no Institut d'Etudes Politiques de Paris e defendeu a sua tese de doutoramento em Literatura Comparada sobre "Le fait divers, littérature du pauvre". Em 1965, mudou-se para os EUA. Era professor de literatura francesa em Salt Lake City, local onde reencontrou Jean-Claude Mézières. De volta à França, eles enviaram à revista Pilote uma história em quadrinhos de ficção científica que acabou por ser publicada. Continuaram a colaborar e, em 1967, nasceu Valérian & Laureline na história Les Mauvais rêves (Os Sonhos Ruins), publicada pela Pilote. Também trabalhou com outros desenhistas, ele escreveu para Jacques Tardi, Boucq, Vern, Enki Bilal, Annie Goetzinger, entre outros. Teve a capacidade de escrever com estilos diferentes para cada colaboração, com Mezieres, para Valérian, otimista e utópico, pesado e negro com Bilal em Les Phalanges de l'Ordre noir (As Falanges da Ordem Negra) e Partie de chasse (Festa de Caça) e íntimo com Annie Goetzinger La Demoiselle de la Légion D'Honneur, Paquebot (A Menina da Legião de Honra, o Navio). Também escreveu romances: Les Prédateurs enjolivés (Os Predadores Embelezados), ZAC, Rendez-Vous en Ville (Rendez-Vous na Cidade), L'Or du Zin (O Ouro do Zinco), Petits Crimes Contre les Humanités (Pequenos Crimes Contra as Humanidades). Também escreveu argumentos para cinema, Bunker Palace Hotel de Enki Bilal. Ele também é professor no Institut de journalisme Bordeaux-Aquitaine, onde foi um dos fundadores.




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